As televisões, os jornais e as redes sociais, fazem eco imediato destes acontecimentos. Acompanhadas de "imagens trágicas" as reportagens dão origem a um sem numero de comentários que mais parecem os "treinadores de bancada" a falar de futebol. De um momento para o outro, todos nos tornamos especialistas em engenharia e em hidráulica. Eu não sou especialista e nada, muito menos em engenharia hídrica, mas antes de emitir uma opinião, estudo os assuntos e junto os meus conhecimentos e experiência ao meu raciocínio.
Se é verdade que foram criadas demasiadas expectativas relativamente às recentes obras no campo de Recardães (canal) e à (futura) Ponte do Campo em Cabanões, tambem é verdade que ninguém de bom-senso achava que as cheias iriam terminar em Águeda. As cheias fazem parte do normal funcionamento da natureza. São essenciais para a fertilização dos solos e para "limpeza" de muitas pragas que, se não forem as cheias, não deixam depois as culturas florescer na primavera.
As pessoas é que quiseram invadir o território que era "inundável" e acharam que podiam controlar tudo a seu belo prazer. Foram estradas, pontes, casas, praças, barreiras e aterros que invadiram espaços que outrora eram campos de cultivo inundáveis.
Por outro lado, a serra foi ficando despida de vegetação e/ou inundada de eucaliptos, que secam tudo à sua volta, não permitindo a fixação da água nesses solos, obrigando-a a deslocar-se em grande velocidade para os rios e riachos. Isso naturalmente tem consequências. As águas sobem com muito maior rapidez, o que por vezes acaba por apanhar as pessoas desprevenidas. Mas, como dizia à dias o Luís Fernandes, quem nasceu na baixa de Águeda sempre conviveu com estas situações com normalidade. Os "curiosos" é que fazem disto um drama que parece que nunca tinha sido visto. É naturalmente um drama para os comerciantes quando vêem os seus estabelecimentos invadidos pelas águas e para os moradores que vêem os seus haveres em risco. Mas, a maior parte deles tem, ou devia ter, conhecimento destes riscos desde sempre.
O "mercado" está cheio de estudos e mais estudos sobre as cheias em Águeda. Muitos apontam as barragens como solução para o controle das cheias outros para o desvio das águas, mas o ultimo deles (conhecido) aponta para esta solução, agora adoptada, da abertura do (tal) canal no campo de Recardães e para a retirada do aterro em Cabanões, sendo aí construída uma nova ponte. Mas, este mesmo estudo aponta tambem para o desassoreamento da Pateira, como uma solução complementar que contribuirá para o aumento da superfície da bacia hidrográfica do Águeda e Vouga, de forma a poder suportar maior quantidade de água em alturas criticas. Ora, quem conhece bem a Pateira e o Rio Águeda, sabe que quando há uma grande cheia no rio, normalmente, ao outro dia há uma grande cheia na Pateira. Claro que as marés tem tambem uma grande influencia neste fenómeno, mas na maioria das vezes é isso que acontece. É tambem aqui que eu queria concentrar o meu raciocínio.
Todos sabemos que a Pateira foi invadida por detritos, sedimentos, várias espécies de plantas, arbustos e árvores, que antes não existiam no leito da Pateira. A água vinha até às margens, onde apenas havia a tabúa e algum caniço, que servia de abrigo à procriação de várias espécies. Hoje as árvores e os arbustos tomaram conta de quase metade daquele que foi em tempos o leito da Pateira. Estas árvores e arbustos, fixaram em ser redor outra vegetação e muitos detritos, criando uma zona pantanosa, com lamas que depois de sedimentadas passam a ser terreno seco. Ora onde está, lama, caniços e restos de muitos detritos, não cabe a água. Contando ainda com o assoreamento no meio da lagoa, acho que, sem exagerar, a Pateira deverá estar a menos de metade da sua capacidade de "encaixe" de água do que deveria estar. Tudo isto ajuda a explicar, por um lado, a subida repentina das águas e, por outro lado, a dificuldade em a água baixar mais rapidamente, mantendo-se muito mais tempo com niveis elevados nos campos.
Resumindo, é preciso fazer as coisas de forma integrada. Não basta tomar medidas avulsas e, por vezes, gastar o dinheiro sem se ter em conta as verdadeiras razões para estes fenómenos. Por outro lado, não se pense que se vão terminar com as cheias no vale do Águeda. Elas fazem parte da nossa natureza e nós apenas temos de nos adaptar às novas realidades. Uma politica integrada de ocupação dos solos, desde a serra até ao mar. A limpeza permanente dos rios, riachos e lagoas. Tudo isto bem estruturado, fará com que nos habituemos a lidar com estes fenómenos de uma forma mais racional.
Quantos a "comentadeiros de serviço" que incendeiam a comunicação social e as redes sociais com "babosoreiras" sem conhecerem, nem estudarem estas situações a fundo, vão mas é "bugiar".
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